Depois de quarenta dias de incerteza, a Toyota voltou a produzir carros no Brasil. As linhas de montagem de Sorocaba e Indaiatuba, ambas no interior de São Paulo, foram religadas no início de novembro, marcando o recomeço de uma fase difícil para a montadora. A paralisação havia sido provocada por um vendaval que destruiu parte da fábrica de motores de Porto Feliz, responsável pelo fornecimento dos propulsores usados nos modelos Corolla e Corolla Cross.
O impacto do desastre foi imediato. Sem motores, a produção parou e o reflexo nas vendas não demorou. O Corolla Cross, até então um dos SUVs mais vendidos do país, caiu de 7.282 unidades em setembro para 3.609 em outubro, uma retração de mais de 50%. O Corolla sedã também sentiu o baque, com queda de cerca de 27% no mesmo período. Foi um golpe duro para uma marca conhecida pela regularidade e pela eficiência de sua operação.
Durante o mês de outubro, as concessionárias trabalharam apenas com o que restava nos pátios. Com o estoque esgotado rapidamente, os consumidores encontraram filas de espera e prazos indefinidos. A Toyota, que sempre evitou manter grandes volumes de veículos parados, viu-se refém de sua própria estratégia de produção enxuta. A interrupção também atingiu a cadeia de fornecedores e afetou o mercado de peças, deixando revendas e oficinas em compasso de espera.
A retomada da produção foi planejada em etapas. Nesta primeira fase, a prioridade são as versões híbridas de Corolla e Corolla Cross, cujos motores 1.8 já vinham do exterior. Esses modelos voltaram a ser montados nas linhas brasileiras no começo de novembro. As versões flex, equipadas com motores fabricados em Porto Feliz, só devem retornar à linha de montagem no início de 2026, quando a unidade danificada estiver totalmente recuperada.
Para viabilizar o retorno, a Toyota organizou uma operação de importação emergencial de motores e peças vindas de outras fábricas do grupo em diferentes países. Em Sorocaba, a empresa retomou a produção em três turnos para tentar recuperar parte do volume perdido nos últimos meses. Indaiatuba, onde é feito o Corolla sedã, manteve dois turnos e deve acelerar o ritmo até o fim do ano.
Mesmo com o retorno gradual, a Toyota ainda enfrenta o desafio de equilibrar a produção com a demanda reprimida. O Corolla Cross, que vinha disputando a liderança entre os SUVs médios, perdeu espaço para rivais como o Hyundai Creta e o Jeep Compass. A montadora, no entanto, acredita que os números voltarão ao normal ao longo de 2026, quando o fornecimento de motores estiver estabilizado e o ritmo de exportações retomado.
O incidente também adiou o cronograma de lançamentos da marca no Brasil. O Yaris Cross, novo SUV compacto da linha, teve sua estreia empurrada para novembro. A Toyota garante que o modelo será o primeiro grande lançamento após a retomada das operações, símbolo da reestruturação da marca no país.
Enquanto isso, a fábrica de Porto Feliz segue em obras e sem prazo definido para voltar à plena capacidade. Técnicos avaliam os danos e estudam a possibilidade de transferir temporariamente parte do maquinário para outras unidades. Cerca de 800 funcionários permanecem em layoff, aguardando o fim das reformas e a reorganização da produção.
Apesar dos prejuízos, o cenário começa a melhorar. O retorno parcial da produção devolve confiança à rede de concessionárias e aos consumidores. A Toyota conseguiu preservar o emprego de mais de sete mil trabalhadores nas unidades de Sorocaba e Indaiatuba e já retomou o ritmo de entregas, priorizando o mercado interno e parte das exportações para a América Latina.
O episódio, porém, deixou lições. A tempestade revelou a fragilidade de um sistema industrial dependente de uma única planta para o fornecimento de motores e mostrou como eventos climáticos podem paralisar uma estrutura inteira. Agora, a marca busca reforçar sua logística e diversificar pontos de produção para reduzir riscos futuros.
A reabertura das fábricas representa mais do que o retorno à normalidade: é a chance de a Toyota demonstrar resiliência diante de uma das maiores crises de sua história recente no Brasil. Com a confiança dos clientes e o foco em eficiência, a montadora tenta transformar um desastre natural em um novo ponto de partida para sua operação no país.
Fonte: UOL, AutoEsporte.